Ousada, a Willys passou a fazer o Interlagos nos moldes do Alpine francês, em um processo mais voltado à divulgação que aos lucros |
Da série Carros Antigos (Uol Carros)
Aparentemente o objetivo não era lucro sobre a operação trabalhosa, peculiar — a plataforma do Interlagos era de pequenos pedaços de ferro redondo soldados e revestidos em fibra de vidro, então insólito material empregado para fazer base e carroceria —, mas divulgar marca e o Gordini. E o fez criando a Equipe Willys de Competição, pioneira em profissionalismo. Servia para correr, fazer demonstrações em cidades onde a marca precisava instigar vendas, desenvolver tecnologia — a caixa de quatro marchas usada em Aero, Jeep, Rural, picape foi desenvolvida por Luiz Antônio Greco, chefe, e Nelson Brizzi, primeiro mecânico —, criar soluções, como modificar o Interlagos com soluções de ergonomia e operacionais não encontradas no modelo original; fazer o Interlagos vencer corridas em autódromos e ruas, ao contrário de seus resultados europeus em ralis; construir carros de corrida marcantes como o Willys Gávea, um Fórmula Três, primeiro nacional para corridas internacionais no Cone Sul; os Binos Mark I e II.
A equipe de competição, chefiada por Luiz Antônio Greco, ajudava na divulgação da marca com demonstrações em cidades de baixa venda |
A alusão à potência aumentada (40 cv brutos, 32 líquidos) era evidente na publicidade do Gordini, que trazia ainda câmbio de quatro marchas |
Nada de delírio tropical, mas o maior efeito-demonstração para mostrar que o Brasil tinha uma indústria automobilística. Sem matriz para absorver tecnologia, desenvolvia-a aqui mesmo, como ser a primeira marca a adotar a vantagem operacional e econômica do sistema elétrico com 12 volts; o pioneirismo do alternador substituindo o gerador; a citada caixa com quatro marchas sincronizadas; suspensão dianteira independente para Rural e picape. Num protótipo, criado para ser produto, mas cancelado pela crise econômica pós-Revolução Militar de 1964, estavam o motor ampliado para 3,0 litros, a novidade tardia do coletor de admissão removível, a caixa de quatro marchas. Por si só, o tal esportivo natimorto, dito Capeta, era um atrevido desafio. Chassi próprio, suspensão frontal com braços inferiores e feixe de molas transversal, motor dianteiro entre eixos, equilíbrio de formas adequado passados quase 50 anos de sua construção, ainda exibia uma surpreendente perfeição escultórica no molde e no trabalho de fibra de vidro. Projeto e supervisão direta para realização em tempo recorde por Roberto Araújo, diretor de estilo — com lugar na mesa diretora, uma conquista para o setor, mas amostra clara que para o ágil Pearce estilo era coisa importante.
O estilo daqui melhorou o de lá. Em 1965 a equipe de Araújo inverteu o corte dos para-lamas traseiros, mudou o projeto do mundialmente festejado Stevens, esticando o carro. O Aero cresceu, impôs-se, e com a nova caixa sincronizada de quatro marchas praticamente renasceu com mudança aparentemente tão pequena. A crise que exorcizou o Capeta provocou Pearce a levar ao governo federal, por meio de Lindberg Cury, jovem sócio da Planalto, revendedora em Brasília, solução para a enorme queda de mercado, causada pela restrição de circulação de moeda e financiamento máximo em seis meses: redução impactante do imposto, o IVC, de 30% para 7,5%, recuperados mensalmente; criação de carros simplificados; financiamento especial pela Caixa Econômica em 48 meses com 10% de entrada. O governo gostou, fez sua parte.
O Capeta pretendia ser um carro esporte de motor dianteiro e estilo bem elaborado, mas a crise em meados dos anos 60 arquivou seu projeto |
Não perca amanhã a quinta e última parte da série!
Nenhum comentário:
Postar um comentário