Projeto da Renault francesa, o Dauphine foi o passo seguinte da Willys: um
carro compacto com motor traseiro de quatro cilindros e 850 cm3
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Especial para Uol Carros (*)
Joseph Frazer saiu do negócio, e os Kaisers, acostumados a fazer muitos lucros mais rápidos — aço, construções —, não deram o braço a torcer, optando por resumir a operação, olhar para o mercado externo. Rápido, Edgar Kaiser, herdeiro, marcou viagem à América do Sul. Passo definidor. No Rio de Janeiro, após anunciar os planos num jantar, ouviu do Chanceler Oswaldo Aranha — pai do seu representante — que nenhuma das empresas de automóveis aqui instaladas, incluindo a General Motors, prestava serviços ao País, sem desenvolver uma indústria. Fosse pelo peso institucional de Aranha, ex-embaixador nos EUA, com livre trânsito no país, referenciado mundialmente como o brasileiro que abriu a primeira conferência da ONU, outra consequência do pós-guerra; fosse pela situação e números, por dossiê de Hickman Price, então seu funcionário, pelo champanhe que dá coragem, Kaiser respondeu à altura: fazer 50 mil por ano, para vendê-los a US$ 2 mil, ao mercado interno e de exportação. E completou: com 30% de peças nacionais.
Demorou, atrapalhado pelo suicídio de Vargas. Meses após, Edgar Kaiser veio para os finalmente, decidindo a operação em São Paulo, onde mais crescia a indústria de autopeças. E sobrevoando fazendas em São Bernardo do Campo, SP, seu piloto particular sugeriu um platô, perto de duas estradas ligando com a capital, uma com o porto, para iniciar sua fábrica. Objetivo, Kaiser nomeou-o diretor, fiscal pessoal do empreendimento. Seu nome era William Max Pearce; era engenheiro e piloto de caça na recém-encerrada Guerra da Coreia.
Começa
É a terceira fase. A Willys não perdeu tempo. Manteve importação, montagem e distribuição a partir do Rio de Janeiro e, em paralelo, construiu amplo prédio onde instalou a linha de montagem que abrigava o restaurante industrial para funcionários. Orgulhava-se: no fim de 1954, cumpria a promessa de 30% das peças do Jeep Universal serem nacionais.
Solidez e resistência apregoadas na publicidade não se confirmavam na prática; este bruto era chamado de "Bernardão", o Jeep alongado de quatro portas |
Price, bom de serviço, foi para a Mercedes-Benz ser presidente e, logo após, levado aos EUA, ministro do governo Kennedy. Saiu Price, ficou Pearce com maiores poderes. Dinamizou o negócio por conta da favorabilidade das condições, em especial ter os meios industriais, autonomia, geração local do fluxo de caixa — e os produtos mais adequados ao Brasil daquele tempo: Jeep, logo a Rural, o grande salto de nacionalização com motor próprio, três anos antes dos concorrentes, picape Jeep. O motor BF-161, com válvulas em "F" — admissão no cabeçote e escapamento no bloco —, foi desenvolvido para tocar geradores de luz, ser motor auxiliar, mover barcos. O do Dauphine, abaixo citado, também. Retrato do País, acredite, o Jeep foi durante alguns anos o veículo mais vendido. Em 1959, passo grande e valente, associada à Renault, entrou no caminho dos automóveis, indo ao outro extremo da escala da resistência, construindo pequeno sedã Dauphine — e dinamizou aproximar frágeis europeus da inimaginável realidade brasileira da ausência de asfalto, estradas, gasolina ruim, mecânicos desinformados...
Sem êxito nos EUA, o sedã Aero Willys encontrou adequação no Brasil; em 1963 ganhava linhas mais imponentes (embaixo), de projeto local |
(*) Reprodução autorizada pelo autor ao Blog Sou Jipeiro
Continua na edição de amanhã.
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