Foto histórica da entrega dos jipes em Amapá |
A pedido do Blog Sou Jipeiro, o Professor Montoril realizou um exaustivo trabalho de pesquisa a respeito da trajetória do "Jeep" como ficou mundialmente conhecido esse pequeno grande carro. Acompanhe o resultado a seguir.
A versatilidade dos Jeep's
Por longo
tempo os serviços de mensageiro e de batedor do Exército dos Estados
Unidos da América do Norte foram realizados por homens montados a
cavalo. As trilhas que os mensageiros e os reconhecedores seguiam eram
muito acidentadas e nada recomendadas para charretes e diligências.
Posteriormente, estas atividades passaram a ser desenvolvidas por
motociclistas. Entretanto, as motos eram do tipo “side car” e tinham
limites para transporte de pessoal e material. Interessado em utilizar
um veiculo de reconhecimento leve, rápido e capaz de trafegar em
qualquer terreno, o Exército norte-americano lançou um desafio a 135
fabricantes de automóveis dos Estados Unidos, expresso em um edital
datado de 11 de julho de 1940, nos seguintes termos: a viatura deveria
ser fabricada em aço estampado, ter tração nas 4 rodas, capacidade para 3
passageiros, pesar no máximo 600 kg , potência máxima do motor de 40
HP, velocidade máxima de 80 km/h, transportar no mínimo 300 kg e estar
adaptada com uma metralhadora de 30 mil. As empresas interessadas
deveriam apresentar o protótipo do veiculo 49 dias após o lançamento do
edital e entregar 70 viaturas 75 dias após atender a primeira exigência.
A empresa American Bantam Car Company foi a primeira a fabricar seu
protótipo identificado como MK II, entregando-o ao Exército dos Estados
Unidos no dia 23 de setembro de 1940. O pequeno MK II foi submetido a
rigorosos testes em mais de 5.000 km de estradas de chão e considerado
apto.
A Willys-Overland Company só
apresentou o modelo “Quand” em 11 de novembro de 1940. O modelo da Ford,
batizado como Ford GP “Pygmy” foi entregue em 23 de novembro do citado
ano. Os modelos da Willys e da Ford eram muito parecidos com o MK II da
American Bantam Car Company. Por ser arrojado e capaz de trilhar
terrenos ingrimes e lamacentos, satisfazendo assim os interesses dos
militares, o MK II foi apelidado de General Purpose, alcunha do
personagem Eugene do desenho animado Popeye, que fazia sucesso desde
1936, ano de seu lançamento. O pequeno personagem correspondia a um
animal com poder de viajar entre as dimensões e resolver todos os tipos
de problemas. General Purpose significa “fim geral” em inglês e no
desenho era referenciado como Gee Pee, nome das letras G e P.
Entretanto, no seio da população a letra G era pronunciada como se fosse
um J. Assim, o veiculo ficou popularizado como Jeepee, evoluindo para
Jeep. No quesito motor o modelo da Willys levava grande vantagem porque
tinha 60 HP contra 46 HP da Ford e 45 HP da American. O motor Go Devil
fabricado pela Willys podia alcançar a velocidade máxima de 118hm/h e
percorria até 38 km queimando um galão de gasolina. Para que o modelo da
Willys apresentasse rendimento ainda mais satisfatório, seu motor foi
totalmente desmontado e as peças avaliadas uma a uma. Como forma de
conciliar uma forte animosidade que surgia entre as empresas que
fabricaram protótipos, o Exército Norte-Americano encomendou 1.500
veículos a cada companhia, perfazendo o total de 4.500 unidades Quando
os Estados Unidos passaram a participar da Segunda Guerra Mundial, a
partir de dezembro de 1941, a produção de Jeeps alcançou índices bem
elevados. A 23 de julho de 1941, o Corpo de Intendência do Exército
concedeu a Willys-Overland Motors o contrato para a fabricação de 16 mil
veículos do modelo Willys MA.
Este modelo sofreu alterações
dando origem ao modelo Willys MB (Mobel B) com a forma com que ficou
conhecido no mundo. O carro da Willys ganhou a preferência dos
militares, tanto que, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, mais de 660
mil unidade do modelo Willys MB Track ¼, 4/4 foram utilizadas nas
operações de campanha bélica. Ainda no fluxo de 1941, o modelo MB ganhou
grades dianteiras em aço soldado, igual a uma grelha e ficou conhecido
popularmente como “Slatt Grill”. Estima-se que ainda rodem pelo mundo
cerca de 200 veículos.
Em
outubro de 1941, forçado pela grande procura de Jeeps, o governo
americano fez um acordo com a Willys-Overland para que ela entregasse a
um segundo fabricante o projeto e as especificações do modelo MB,
ficando-lhe assegurado o direito de produzir pelo menos a metade das
encomendas. O segundo fabricante em questão era a Ford, que a contar do
dia 10 de janeiro de 1942, iniciou a produção de 15 mil GPWs. A letra W
que figurava no modelo significava “padrão Willys”. Até dezembro de
1945, a Willys e a Ford fabricaram 640 mil Jeeps.
Modelo MB fabricado pela própria Willy e que foi exaustivamente utilizado pelos exércitos estadunidense, ingles e brasileiro na II Guerra Mundial e no pós guerra. |
Foram Jeeps deste modelo que a
Força Expedicionária Brasileira-FEB recebeu como doação do governo dos
Estados Unidos. As tropas brasileiras integraram o contingente do V
Exército Norte-Americano durante a campanha da Itália. O número total de
Jeeps ¼ toneladas foi da ordem de 655, havendo entre eles 9
ambulâncias. Em 1942, a Willys produziu o Jeep mais prestigiado pelos
Exércitos dos Estados Unidos e Inglês, o MB42, considerado o modelo mais
clássico.
Jeeps doados pelo Exército Norte-Americano à Força Espedicionária Brasileira por ocasião da II Guerra Mundial. O valente Jeep MB transportava até cinco pessoas. |
Após o encerramento do grande
conflito, as viaturas que se apresentavam em perfeita condição de uso
foram trazidas para o Brasil. Em 1950, a Willys registro a marca Jeep,
mantendo-a até 1953, quando a vendeu para Henry J. Kaiser Motors. A
Kaiser Motors introduziu no mercado automobilístico os modelos CJ 5 e
CJ 6, que foram fabricados até o ano de 1986. Atualmente a marca Jeep
pertence à Daimler-Chrysler depois de ter passado pelo controle
acionário da American Motors Corporation e da Chrysler.
A WILLYS-OVERLAND DO BRASIL
A
Willys-Overland do Brasil foi fundada em 26 de agosto de 1952, na cidade
paulista de São Bernardo do Campo. Em 1954, a empresa deu origem a
produção de veículos com o nome de Jeeps Universal, correspondendo ao
Jeep Willys modelo CJ 5, montados com peças trazidas dos Estados Unidos.
Do ano de 1957 até 1959, quase todas as partes do veiculo foram
fabricadas no Brasil. A partir de 1959, até o motor já era de fabricação
brasileira. Em outubro de 1967, a Ford do Brasil assumiu o controle
acionário da Willys-Overland do Brasil, herdando as marcas Jeep, Rural
Willys, Pick-Up Willys, Aero-Willys, Itamaraty, Gordini e Interlagos. Em
1970, a Ford deixou de fabricar o Jeep e o Aero-Willys. Em 1986, quando
a marca Jeep se encontrava sob controle da Kaiser Motors, a linha CJ
foi substituída pela linha Jeep Wrangler. Coube a Daimler-Chrysler, em
2002, trazer de volta a marca overland, utilizada no Jeep Grand
Cherokee.
O modelo CJ 5 foi o último a ser fabricado peal Ford do Brasil depois de ter assumido o controle acionário da Willys Overland do Brasil. |
A IMPORTÂNCIA DOS JEEPS NO DESENVOLVIMENMTO DO AMAPÁ
Os
Jeeps modelo CJ 5 foram os que mais circularam nas terras do Território
Federal do Amapá. Sem ter suas ruas asfaltadas ou calçadas, a cidade de
Macapá apresentava aspectos desoladores durante o período invernoso. Em
algumas delas até os veículos automotores acabavam ficando atolados na
lama. Os primeiros registros oficiais relativos a existência de Jeeps em
Macapá datam do ano de 1960, ocasião em que o governo amapaense comprou
as primeiras unidades. Até o ano de 1957, o preço de um Jeep era
elevado, visto que sua montagem no Brasil ainda dependia da impostação
de peças fabricadas nos Estados Unidos. Em 1960, o governo territorial
adquiriu dois Jeeps destinados ao Posto Agro-Pecuário de Macapá, na
Fazendinha e à Olaria Territorial.
Em 1961, foi comprado um Jeep
para a Seção de Produção Animal. Em 1963, o governo territorial possuía
10 Jeeps Willys-Overland: 1 na Secretaria Geral, 2 na Divisão de
Produção, 2 na Divisão de Obras, 1 na Divisão de Terras e Colonização, 3
recolhidos a Garagem Territorial aguardando reparos e 1 Jeep recém
comprado aguardando destinação. Além deles, havia um Jipão
Internacional. Nos anos posteriores a quantidade de Jeeps pouco
aumentou. Alguns veículos novos foram comprados para substituir os que
não tinham condições de tráfego.
Em pé no Jeep da Secretaria Geral, o Governador Jorge Nova da Costa abre o desfile estudantil de 13 de setembro de 1987, na Av. Fab. |
Estes veículos eram mantidos na
garagem para aproveitamento de peças. Em 1967, na gestão do General
Ivanhoé Gonçalves Martins foi comprado o primeiro Jeep da marca Toyota
para uso do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Em 1968, outro
Jeep Toyota foi adquirido para a Olaria Territorial. Em 1969, a frota
de Jeeps compreendia 25 viaturas da marca Willys e 2 da marca Toyota.
Neste ano foram compradas cinco unidades assim destinadas; Residência
Governamental, Divisão de Educação, Divisão de Saúde, Serviço de
Administração Geral e Serviço de Municipalidade. Antes da fabricação do
Jeep Willys no Brasil, o veiculo tinha que ser importado dos Estados
Unidos. No Amapá rodaram alguns desses importados, todos pertencentes ao
governo. Os Jeeps que se destinavam à Divisão de Obras, Divisão de
Produção, Superintendência de Abastecimento do Território Federal do
Amapá-SATFA, e DNER tinham guincho elétrico na parte dianteira e guincho
mecânico na parte traseira.
Devido ao fato de viajarem
frequentemente pelo interior do território, trafegando por estradas
esburacadas e lamacentas, precisavam do cabo enrolado nos guinchos, com
um gancho da ponta, para rebocar ou ser rebocado ou ainda ser içado caso
caísse em uma depressão do terreno ou içar veículos que estivessem em
situação semelhante. Por ocasião da abertura do trecho da BR-15, atual
BR- 156, entre a Base Aérea de Amapá e Calçoene, o único veículo leve
capaz de andar pelo campo encharcado da região era o Jeep Willys CJ 5
utilizado pelo empresário Walter do Carmo. Para vencer um lodaçal
existente numa área de campo, onde sequer havia árvores que servissem de
ponto de apoio para a atracação do cabo do guincho dianteiro, os
operários da estrada de rodagem cortaram centenas de varas,
distribuindo-as paralelamente pelo trecho a ser percorrido. O próprio
empresário Walter do Carmo dirigiu o veiculo com o sistema de tração das
quatro rodas devidamente acionado. Os moradores de Calçoene comemoraram
bastante quando o Jeep adentrou na vila. Eles passaram a ter certeza de
que finalmente iriam sair do isolamento terrestre, fato concretizado
pouco tempo depois. O ex-vereador Juvenal Canto, que ao ingressar no
quadro de pessoal do governo do Território Federal do Amapá foi
designado para dirigir um Jeep do Serviço de Geografia e Estatística,
conta o drama que viveu porque, acostumado a dirigir motor de popa, não
sabia engatar a marcha à ré da viatura. Por esta razão ele sempre parava
o Jeep em parte inclinada da lateral da rua. Quando queria sair bastava
desengatar o freio de mão. Agiu assim até o dia em que o diretor do
órgão descobriu sua peripécia. Acabou sendo transferido para o Serviço
de Navegação. O Jeep sempre foi destaque nos desfiles cívicos e
militares. Governadores e Oficiais das Forças Armadas abriam os desfiles
em pé dentro do veículo. Em Macapá o procedimento não foi diferente.
Porém, o General Ivanhoé Gonçalves Martins preferia cumprir o ritual
caminhando na pista do desfile. Enquanto os contingentes estivessem
desfilando ele se mantinha em posição de sentido na frente do palanque.
Foi no governo dele (1967 a 1972) que os desfiles da Semana da Pátria e
da Semana do Território passaram a ser realizados na Avenida FAB. Até
1966, os desfiles ocorreram no trecho da Avenida Iracema Carvão Nunes,
entre as duas alas da Praça Barão do Rio Branco.
Um fato muito interessante
aconteceu no trecho mais baixo da Rua Cândido Mendes, entre as atuais
Avenidas Matheus de Azevedo Coutinho e a Nações Unidas. O perímetro
estava sendo aterrado e antes disso só as lambretas e vespas trafegavam
por lá. Um sujeito que encheu a cara de cana na Doca da Fortaleza
voltava para casa quando duas lambretas passaram por ele tirando um fino
danado. O bêbado xingou as genitoras do lambretistas e continuou
caminhando. Ao perceber que dois faróis vinham em sua direção estancou
no meio da rua julgando que fossem as lambretas retornando para o centro
da cidade. Para azar seu, o veículo era um Jeep da Divisão de Obras que
fiscalizava o serviço de abertura de valas para assentamento de tubos e
expansão de distribuição de água. Para felicidade do motorista a
abalroada não causou grandes danos ao “pau-de-cana”. Viveu muito tempo
em Macapá um comerciante cujo estabelecimento tinha o titulo de “Bazar
Bandeirante”. Ele possuía um Jeep que tinha luzes coloridas por todas as
partes do veículo. À noite, era muito fácil identificar o Jeep do
Bandeirante que mais parecia uma árvore de natal ambulante. Quando
alguém caprichava na indumentária, o povo dizia que o sujeito estava
mais enfeitado do que o jeep do Bandeirante. Em 1961, quando exercia o
cargo de governador do Amapá, o pernambucano José Francisco de Moura
Cavalcante, cognominado de “Zé Bonitinho”, julgou que tinha poderes para
se intrometer nos negócios da Indústria e Comércio de Minérios S.A.
Numa manhã de sábado Moura Cavalcante usou o Jeep da residência
governamental para ir ao porto de Santana verificar se era verdade que a
balança usada pela ICOMI para pesar o minério de manganês exportado
estava avariada. Ao chegar ao portão da ICOMI encontrou a entrada
bloqueada por uma grossa corrente de ferro. Os vigilantes da empresa
indagaram o que ele pretendia e o informaram que o ingresso na área da
companhia só ocorreria após a identificação do condutor do veículo e a
autorização de estâncias superiores. Sentindo-se ofendido, o governador
engatou a marcha ré do veículo e investiu contra a corrente,
arrebentando-a e danificando a frente da viatura. Foi detido pela
vigilância até a chegada do funcionário que exercia as atividades de
relações públicas da ICOMI ao local do entrevero. Convencido de sua
atitude não se coadunava com a natureza do cargo que exercia, Moura
Cavalcante retornou a Macapá jurando que tudo faria para provar que a
ICOMI estava sonegando imposto sobre minério. A atitude desrespeitosa do
governador lhe valeu uma admoestação do senhor Jânio da Silva Quadros,
Presidente do Brasil. Pequeno e ágil, o jeep foi usado no Amapá para
trafegar nos trechos mais inóspitos da BR 156.
Às vezes, com carga excessiva, a
robusta viatura ligou o interior à capital ajudando a resolver inúmeros
problemas. Ainda na fase do Amapá como Território Federal, o engenheiro
Azarias Neto, prefeito nomeado do Município de Oiapoque, resolveu
colocar um motor de caçamba na parte traseira do Jeep da PMO e
transportá-lo para Macapá. A viagem transcorreu normalmente até que o
Jeep alcançou um trecho íngreme. Ao tentar vencer o acentuado aclive o
Jeep rebolou ladeira a baixo ceifando a vida do prefeito. O Jeep Willys
passou a ser vendido em Macapá pela firma Irmão Zagury & Companhia
Ltda., capitaneada por Moisés Zagury e Jaime Isaac Zagury, depois que a
Ford do Brasil comprou a Willys-Overland do Brasil.
Por: Nilson Montoril
Por: Nilson Montoril
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